quinta-feira, 17 de setembro de 2009

CAPITALISMO ELEITORAL

Por Ademarcos Dantas Santana

Quanto vale uma “cadeira” na câmera municipal? Quanto vale o voto? A cadeira municipal, como bem sabemos, é ocupada por aqueles que foram eleitos pelo povo, através do ato democrático de votar, nesse caso os vereadores, mas também pode ser aplicado ao poder executivo. Para se elegerem, esses precisam, durante o período eleitoral, do povo. Já o povo, esquecido muitas vezes durante quatro anos, tem o direito de voto, ou seja, o direito de escolher os ocupantes dessas cadeiras. Dessa relação “cadeira da câmera ou da prefeitura” e o voto, surgiu o que eu chamo de capitalismo eleitoral. Esse ano, o voto foi cotado entre 50 a 500 reais e o juro das taxas de puxa-saquismo ficou entre 100 a 1000 reais. Será que essa quantia vale quatro anos? Ao refletir, lembre-se que o salário do vereador aumentou!

A cada ano, durante o período das campanhas eleitorais, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) investe muito em propagandas que visam a conscientizar o eleitor sobre a importância do voto, dizendo: “Quatro anos é muito tempo, principalmente quando as coisas não vão bem” ou “Não venda seu voto” e coisa tal. Isso porque nas últimas eleições os candidatos têm oferecido dinheiro em troca do voto ou pela anulação do direito de votar (compra dos documentos). Algumas pessoas esclarecidas costumam chamar essa prática de compra e venda de dignidade. Mas, eu prefiro chamar de capitalismo eleitoral.

O que seria o capitalismo eleitoral? O capitalismo eleitoral é o sistema político-econômico de compra e venda de voto durante o período eleitoral.

Antes, o capitalismo eleitoral era praticado por aqueles que nada fizeram pelo povo; aqueles que só sentam na cadeira e ficam girando e torcendo por sessões extra-ordinárias para reembolsar o dinheiro pela sua participação (ou sentação). Mas hoje, quase todos os que almejam essa tão sonhada cadeira praticam esses atos, principalmente os vereadores, em que a concorrência é maior. Cada vereador, pelo menos aqui em Nossa Senhora Aparecida, gastou em média R$ 30.000,00 para se eleger. E não pense que foi apenas com os santinhos, os retratos, as bandeiras ou as músicas. Foi, principalmente, com a compra de votos, ou seja, pagou pelo trono da Câmera Municipal.

Mas por que alguns eleitores se sujeitam a isso?

Segundo alguns eleitores, isso seria a resposta ou o pagamento pelos quatro anos de esquecimento. Ao que pergunto: e quatro anos só vale R$ 50,00 ou R$ 500,00? Então a cidade de Nossa Senhora Aparecida vale quanto? Pois talvez deseje comprá-la ou até arrumar um comprador que a administre melhor! Os que pensam assim cometem pecado mortal para com o município, pois, ao venderem seu voto, estão vendendo 4 anos de administração. Outros aceitam por viverem em condições de miséria e vêem nesse pequeno valor a única solução para alimentar sua família por alguns dias. Esses cometem pecados veniais, leve. Mal sabem eles que a desigualdade social, da qual fazem parte, é resultados de desses políticos compradores de votos.


Essa ideologia, fundida no capitalismo eleitoral, cresce exponencialmente e cada ano o voto está sendo cotado a preços mais elevados. E sua prática esta se tornando comum. E dos hábitos comuns pode torna-se algo cultural. E tornando-se cultural vamos passar a gritar: viva a desigualdade social!

Como vimos, a cada ano de eleições o capitalismo eleitoral tem se tornado comum. E é aí que está o problema, a falta de consciência. As pessoas não se dão conta que estão vendendo os seus direitos, a dignidade, o compromisso, em outras palavras, estão se tornando cúmplices da desigualdade. De quem eles vão exigir se eles não votaram? Pois votar não é sinônimo de vender, pelo menos até agora, amanhã não sei. Já para os políticos, eles não estão nem aí para isso, quanto menos o povo pensar, melhor para eles: fica mais fácil dominar o mercado eleitoral. A sociedade é quem perde, pois dessa forma só pode ser eleito quem tem dinheiro. E quem tem o dinheiro? A elite. E assim deixamos esse ciclo se repetir ao longo da história; feijão com arroz, feijão com arroz...

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