Nesta sexta-feira, (13), Laranjeiras realiza mais um evento cultural importante, que reúne tradição e curiosidades, o Micareme 2011, que prossegue até o domingo, (15). A festa reúne blocos de estilo carnavalesco, tocando músicas de frevo e marchinhas. O evento é comemorado há 75 anos e preseva até os dias de hoje a rivalidade entre os blocos, principalmente Laranjeirense e Bota Fogo. Os foliões guardam segredos e histórias, a exemplo da confecção das fantasias, as diversas estratégias para descobrir as novidades do bloco rival e a criação de paródias para insultar os oponentes.
O mais curioso é que não existe jurados para eleger quem é o melhor, o mais bonito e o vencedor. Portanto, todos se acham vencedores. Também fizeram parte da história do Micareme, os blocos ‘As Malandrinhas’, o ‘Ferro Velho’, ‘Broto do frevo’, ‘As Moreninhas’, Flores de Outrora’ e ‘Mangueira’.
Em décadas passadas, o micareme era realizado sempre no fim de semana após à Semana Santa, porém, para dar mais tempo de preparação, há alguns anos, a festa acontece em maio, com todo o apoio da Prefeitura e empenho dos participantes e da população. Os quatro blocos que sobreviveram (Laranjeirense, Bota Fogo, Águia de Ouro e Ninho dos Gaviões), desfilam com adereços e fantasias de luxo pelas ruas da cidade. Justamente, por conta da rivalidade entre eles, os foliões não podem se encontrar, a não ser no ponto de confraternização (largo da igreja matriz).
Os participantes mais antigos, a exemplo da sócia-fundadora do Laranjeirense, Maria Idalice Oliveira, contam que o micareme está voltando acada ano a ter o mesmo brilho das décadas do século passado, graças ao empenho dos mais jovens, do incentivo dos mais idosos e ao poder público. “Esta é uma festa que existe muita rivalidade entre participantes no período, porém nada pessoal. Mas, não podemos de forma alguma revelar a fantasia, para que o bloco rival não saia nas ruas com a nossa vestimenta. Só quem sabe o modelo e as cores são as próprias costureiras, já que os participantes, na hora da prova, são obrigados a vendar os olhos. Como estratégia, para os oponentes não descobrirem o nosso segredo, nem a casa das costureiras é varrida neste período. Todos os retalhos e linhas são guardados até o final do micareme. Até hoje, eu e parte da minha família, somos apaixonados pelo laranjeirense, somente a minha filha é bota fogo”, afirmou a veterana de 86 anos.
Dona Idalice, como é mais conhecida na cidade, conta também que várias paródias são criadas para insultar os participantes contrários. Além disso, a intelçigência e a estratégia dos blefes são bastante utilizadas no período que antecede o Micareme. “A equipe de um bloco busca sempre se infiltrar entre os oponentes, justamente para a descoberta dos segredos. Os blefes são extraordinários, aparecem retalhos e parte dos adereços das fantasias na porta das casas das costureiras, pessoas desfilam pelas ruas com objetos que jamais vão utilizar nos blocos, pulam janelas, muros, sobem em telhados. É muito bom e engraçado. A identidade deve ser preservada até o último momento”, acrescentou.
Dona Maria Celina da Vitória, 84 anos, defende as cores amarela e branca do Águia de Ouro, bloco no qual é presidente, mas divide a paixão pelas cores vermelha e branca do laranjeirense. “Gosto muito de ser Águia de Oruro, mas o Laranjeirense também é a minha paixão. O mais importante de tudo isso é que não podemos deixar morrer a tradição. Me lembro muito bem das velhas cantigas e de outros blocos que já exitiram em Laranjeiras. Essa recordação vai ficar para sempre na minha memória. É claro que não poderemos revelar os preparativos desta grande festa e das fantasias que estamos preparando para 2010”, ressaltou dona Celina.
Dona Maria Gilene Andrade, 68 anos, representa até hoje o mais tradicional e antigo dos blocos do Micareme, o Ninho dos Gaviões (preto, vermelho e branco). Ela até arrisca cantar as velhas cantigas que marcaram época do bloco e disse que os participantes, sempre do povoado Comandaroba, são conhecidos pelo talento, dedicação e harmonia. “O Ninho dos Gfaviões é datado de 1936. Os participantes de todos os outros blocos nos respeitam e não têm rivalidade conosco. Quando estamos na rua, todos param para nos assitir. É um exemplo de beleza e talento, fruto da dedicação e harmonia. Sem medo de dizer que somos sempre os campeões”, frisou.
Considerado o bloco da elite de Laranjeiras, o Bota Fogo também marca história nas edições do Micareme. Dona Maria Aparecida, uma das principais representantes, revela algumas cantigas e conta um pouco da rivalidade com o laranjeirense. “o sr. Dudu, várias vezes vinha na minha porta com o bloco Laranjeirense como insulto e ainda me perguntava se o bloco não estava mais bonito. Pedia a minha nota e aí eu respondia, mas, por dentro, ficava me roendo. Na realidade, os representantes do Laranjeirense sempre tiveram inveja do meu Bota Fogo azul e branco. O fato é que eles querem ter o sangue azul”, disse sorrindo dona Aparecida.
Diego Góes - da equipe Empauta/ASCOM PML.
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