quarta-feira, 19 de agosto de 2009

MUITO ANTES DO QUE SE VÊ

Por Ademarcos Dantas Santana
Muito antes de o reino ser governado pelo Triunvirato, existia naquela região uma vaca leiteira, cuja fama chegou aos quatro cantos do reino. E, não é para menos, a vaca produzia 1500 litros de leite por mês. Esse magnífico animal era de propriedade pública e seu líquido galáctico beneficiava a todos os camponeses. Beneficiava! Mas a notícia chegou à corte!
Ao saber da fama da vaca, a Rainha e o Mago arquitetaram um plano maquiavélico para se apossar do animal, mas deixando a falsa impressão de que ele pertencia a todos. Mas como colocar isso em prática?
O Mago, mestre do ilusionismo, descobriu que existia um sistema político em torno da vaca. Esse sistema estava dividido em três esferas: o clã, os cavaleiros da tábula redonda e os julgadores. O primeiro administrava a vaca; os segundos aprovavam e criavam medidas que contribuíam para aumentar a produção; e os terceiros julgavam as ações de acordo com a lei comunitária. De quatro em quatro anos, faziam eleição para escolher um novo clã e os cavaleiros. Só que esses tinham que ser do povo.
Diante do conhecimento dos fatos, o ilusionista percebeu a facilidade de tomar posse do animal. Não precisava ser alguém do povo, mas alguém capaz de fingir que é. Foi aí que entrou a Rainha. Sendo ela formada em arte cênica, isso significaria mais uma encenação, uma nova peça.
Sabiamente, a Rainha, na primeira eleição, não disputou a clã, mas a cavalaria. Ao chegar ao teatro, local onde o povo votava, com seu cabelo desarrumado, roupas a caráter e um discurso comovente e apelativo, “não deu outra” e foi eleita. Mas isso era o começo da peça. No decorrer da encenação, ela almejou ser vice-clã e venceu. Porém, isso não a contentava, era preciso o papel principal, ser clã. Até que alcançou, foi eleita!
De posse do animal, ela se reuniu de imediato com o Mago para elaborar seus planos. Sob alegação de melhorar a produção e de que o animal poderia ser roubado, eles criaram um projeto que visava a cercar o terreno em que o bovino pastava. E mais uma vez, como por encanto e encenação, o povo aceitou. E como tinha a maioria dos cavaleiros a seu favor, seu projeto foi aprovado. Depois teve aprovado o projeto para a criação do curral. Mais uma vez tudo foi aceito sem nenhum questionamento. Afinal tudo era novo: o arame, a cerca e o curral. Diante dessas novidades, o povo começou a elogiar, já que os outros não o fizeram. No entanto, apesar de todo esse novo visual, a vaca parecia não render em produção. E alguns ex-clãs começaram a questionar o porquê dessas obras não contribuírem para aumentar a produção. Esses, bem que tentaram conversar, mas agora, com o curral e aquelas cercas altas e fortes, nem eles, nem o povo tinham acesso à vaca.
Tudo isso contribuiu para que alguns camponeses se rebelassem e ameaçassem um levante, principalmente, quando souberam que parte do leite começou a desaparecer inexplicavelmente, acarretando problemas para as famílias mais longínquas, que não mais o recebiam.
Ao saber dos rumores do levante, ela chamou os revoltados e propôs emprego no curral, onde toda a produção acontecia. Esses aceitaram, porém tinha um preço: não podiam dizer nada do que acontecia ao povo. Com seu leite quentinho e achocolatado, eles não abriram o “bico”. Na verdade abriram, mas para elogiar a clã perante o povo que, inocente, deixava-se iludir. Assim, a sábia Rainha ludibriava o povo com carícia, choro e belas palavras, e fazia os sábios se calarem com dinheiro e poder.
Mas o que acontecia com o leite? Teria alguém o derramado por acidente? Soltaram os bezerros? Colocaram água no leite? A essas indagações os camponeses não sabem responder, e aqueles que insistem em buscar essas respostas enfrentam a ira da Rainha e do Mago, que, com encenação e magia, colocam o povo contra esses, taxados de vilões por tentarem buscar a verdade!
Muuuuuuuuuuuuuu!

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