Matéria publicada dia 9/2/2010
Valor Econômico
Após três tentativas frustradas de se capitalizar por meio da atração de sócios, a construtora sergipana Norcon, líder no mercado nordestino de baixa renda, decidiu tocar sozinha o seu plano de expansão pela região Nordeste. No último ano, a empresa diz ter sido procurada por grandes construtoras do Sudeste, que buscavam uma associação ou até mesmo a aquisição da Norcon. Como não houve acordo, a empresa optou por renegociar com bancos uma fatia importante de sua dívida, hoje estimada em torno de R$ 250 milhões, e seguir a vida sozinha.
A direção da Norcon garante que a operação forneceu o fôlego financeiro necessário à consolidação de sua presença nos quatro estados onde atua hoje: Sergipe, Alagoas, Bahia e Pernambuco. No entanto, a construtora já tem projetos no Ceará e estuda a sua entrada também no Rio Grande do Norte e na Paraíba. "O Nordeste é um mundo à parte. Tem muita coisa a ser feita aqui", disse ao Valor o diretor-superintendente da empresa, Cristiano Teixeira.
O executivo explicou que R$ 170 milhões em dívidas que venceriam ao longo deste ano foram postergados para 2012, período em que a empresa já estará entregando projetos lançados em 2008 e cujo Valor Geral de Vendas (VGV) fica próximo dos R$ 450 milhões. "Não temos mais dívida de curto prazo. Conseguimos adequá-la ao nosso fluxo de caixa", explicou.
O alto endividamento foi o principal motivo que levou a Norcon a buscar, em 2007, uma forma de se capitalizar. De olho no crescimento do promissor mercado da construção civil do Nordeste, a companhia chegou a ensaiar uma oferta inicial de ações (IPO), porém acabou desistindo. "Percebemos que não havia janela para a operação naquele momento", contou Teixeira.
A partir de então, plano foi tentar atrair um sócio estratégico e financeiro. Esse sócio traria dinheiro e alguma expertise, em troca de uma participação minoritária na empresa. Assessorada pelo Credit Suisse, a direção da Norcon visitou potenciais investidores em São Paulo, Estados Unidos e Europa. Quando finalmente encontrou um sócio interessado, um fundo de private equity americano especialista no setor imobiliário (que não teve o nome revelado), o acordo acabou minguando em setembro de 2008, na onda da eclosão da crise financeira internacional.
"A partir daí, a decisão mais sensata foi abrir para algumas empresas, já que a Norcon tinha feito investimentos em terrenos e tinha que avançar nos empreendimentos já lançados", explica o diretor. Após conversas infrutíferas com Cyrela, Gafisa e Brookfield, a empresa iniciou, em fevereiro de 2009, negociações para uma associação com a PDG Realty. As conversas duraram cerca de nove meses, mas foram encerradas em 10 de novembro, também sem acordo.
Segundo Teixeira, a PDG Realty queria uma fatia maior da que a direção da Norcon estava disposta a vender. "Não queríamos que chegasse aos 50%", informou o executivo, para depois acrescentar que também houve divergências relacionadas ao valor da transação. "Temos uma marca forte, e nossa marca vende", defendeu-se.
O interesse das grandes construtoras pela Norcon se deve, basicamente, à presença consolidada da empresa no mercado nordestino e em seu sistema construtivo de estruturas pré-fabricadas, que ganhou importância depois do programa habitacional do governo, por diminuir sensivelmente o tempo de construção das casas.
Atualmente, a empresa tem 51 obras em andamento, sendo 15 em Aracaju (SE), três em Maceió (AL), duas em Salvador (BA) e uma no Recife (PE). Boa parte dos projetos são tocados pela subsidiária FelizCidade, voltada ao segmento chamado de "super econômico". Além dos planos para o Nordeste, a Norcon também analisa a entrada no mercado da região Norte, mais especificamente de Belém (PA).
Diante das negociações fracassadas, mas, principalmente, do fim da crise financeira, a empresa ensaia agora um grito de independência: "Não estamos negociando com ninguém. E pretendemos continuar assim", disse Teixeira. Porém, sensato, preferiu amenizar instantes depois: "Nunca se diz não a tudo. Estamos abertos, mas não precisamos mais (de um sócio), como precisamos no passado."
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