sexta-feira, 30 de abril de 2010

Caixa abre novo concurso e frustra expectativas de aprovados



Aprovados informam que na última seleção, em 2008, foram chamados até agora apenas 83 pessoas, enquanto em outros anos este número foi quase triplicado



Inscrições para novo concurso acabaram em 6 de abril

Os aprovados no concurso público da Caixa realizado em 2008 ainda sonham com a possibilidade de uma convocação. O ideal de um emprego estável, em uma instituição pública de credibilidade, sustentado no funcionalismo público, no entanto, está ameaçado.
De acordo com um grupo de aprovados que procurou a reportagem do Portal Infonet, o banco finalizou o período de inscrições de mais uma seleção para cadastro de reserva em 8 de abril, mesmo quando o prazo de validade do processo anterior expira apenas em 27 de julho.

Até agora, de 1404 aprovados apenas 83 foram chamados. O número está abaixo da média de concursos anteriores, pois, de acordo com Charles Hardman, um dos aprovados (ele passou em 102º lugar) e representante do grupo de quinze pessoas que move uma ação pública contra a instituição financeira, no ano de 2000 a Caixa chamou 130 pessoas; em 2004, foram empossados 228 novos servidores. “Nós sabemos que há demanda, até porque há um grande número de terceirizados exercendo a função para a qual se abriu concurso, o que é proibido por lei”, explica.

Sonho de emprego estável é principal objetivo de quem participa de seleções 

A apreensão dos aprovados aumentou após o anúncio do banco, em outubro do ano passado, de que haveria a contratação de cinco mil pessoas em todo o país. Uma demanda que resultaria da abertura de novas agências.
No entanto, em março deste ano a instituição voltou atrás e pouco se sabe, agora, sobre essa possibilidade.  “Quando essa notícia foi divulgada, nós fizemos um levantamento e descobrimos que há demanda em Sergipe. Nós estamos pressionando de forma política”, acrescenta Charles.

A cada duas semanas o grupo se reúne e, a cada trinta dias, o encontro é com o superintendente da Caixa em Sergipe, Luciano Pimentel, a fim de conseguir respostas sobre a situação. A última reunião deveria ocorrer na última terça-feira, 29, na sede do Sindicato dos Bancários, que apóia o grupo. Entretanto, segundo Hardman, a reunião foi cancelada sob a alegação de que não havia nenhuma novidade a ser discutida. “Nosso único interesse é ingressar na Caixa”, confirma.

Fernanda se diz desiludida

Credibilidade

Fernanda Carvalho, aprovada em 176º, reclama também de como é difícil conseguir informações sobre o andamento da lista de convocados. Ela prestou concurso para o banco pela segunda vez e se vê desiludida. Segundo ela, antes só existia uma lista, com o título de ‘Admissional’. Agora são duas: ‘Pré-admissional’ e ‘Admissional’.

Por outro lado, foi apurado que na verdade as listas representam o andamento do processo de contratação: na primeira constam os nomes dos convocados em uma primeira fase, quando se realizam os exames necessários. Ao ser considerado apto, o aprovado recebe uma segunda convocação e seu nome vai para a segunda lista. A partir disso a pessoa passa pela fase de ‘Integração’, quando recebe um treinamento de duas semanas em Salvador e, adiante, há a posse.

Charles Hardman representa grupo que luta por convocação do banco
Fernanda relata que já entrou em contato com diversos setores, inúmeras vezes, e não consegue resposta sobre o andamento das convocações. “A informação que recebi é de que os nomes não são divulgados nem no Diário Oficial, o que é obrigatório. Quem me garante que alguém com a classificação posterior à minha não foi chamado? Tudo é muito obscuro”, protesta.

Assim como muitos, Fernanda investiu pesado nos estudos vislumbrando a possibilidade de ter um emprego estável, com salário mediano e opções de crescimento profissional. Na época em que participou da seleção, ela pagou R$ 300 de mensalidade em um cursinho preparatório. “Fora o que perdemos com o tempo dedicado. Estudei muito, mas parece que o esforço não valeu nada”, lembra. Hoje ela diz não ver muita motivação em participar de novas provas. “Se a Caixa, que é uma instituição de credibilidade nacional, faz isso, o que se pode esperar de outras?”, ressalta.

Terceirizados
O Sindicato dos Bancários de Sergipe protocolou em março e abril deste ano denúncia contra a Caixa nos Ministérios Públicos do Trabalho (MPT) e Federal (MPF). O órgão pede que seja investigada a atuação de 50 terceirizados em funções que seriam de competência de técnicos bancários, cuja convocação é feita por concurso público. No documento há uma lista com o nome e agência de trabalho dessas pessoas, contratadas na condição de telefonistas ou recepcionistas e que recebem salários bem abaixo dos servidores do banco.

“Já existe um TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] orientando a retirada desses profissionais para que essas vagas sejam ocupadas por quem é aprovado em concurso. A caixa burla a lei para ter mão-de-obra mais barata. Há pessoas que estão há cinco anos nessa condição”, acusa Charles Hardman, representante do grupo de aprovados. Esse procedimento adotado pela Caixa tem como reflexo o mau atendimento e, principalmente, o descumprimento da Lei Municipal dos 15 Minutos, pela qual a instituição já responde a processos na Justiça Federal.

Outro lado
O superintendente da Caixa não pôde receber o Portal Infonet para rebater as críticas. O assessor Weider Moreira afirmou que a instituição cumpre o TAC estabelecido com o MPT, tanto que alguns terceirizados já foram demitidos para dar lugar àqueles já aprovados em concurso. Não há nenhuma informação sobre novas convocações.

Moreira disse, ainda, que a Assessoria Jurídica do banco não foi comunicada oficialmente sobre a denúncia protocolada no MPT e no MPF e por isso, naturalmente, não há como a caixa se pronunciar.

A reportagem do Portal Infonet esperou por quatro dias uma resposta oficial da CEF.

Por Diógenes de Souza e Raquel Almeida

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